estágios
Suave é este estágio quando sabemos
que as ruas desertas são mesmo desertas
e que a chuva chove sobre si mesma nas
noites em que a tempestade se estende
como neblina, e um silêncio macio torna
tudo familiar, como se tornássemos o mundo
e o mundo fosse a reverberação de uma vida
desejada. Então, abre-se pela manhã uma atmosfera
que não apenas é fresca; é como se a manhã ganhasse
uma nova irmã, que ainda não sabe que ela é parte
de algo que se prolonga e tece no final de uma textura
crepuscular, onde muitos já se perderam ou, ao perderem-se,
fragmentaram-se em estilhaços que se foram. Agora,
separados, rendem-se ao horror que, sem face,
faz a vida parecer um disfarce. Em outra banda, onde
a inocência, prendada e alegre, não assume sua
brevidade, mas cada instante como indomável, e por
isso eterno, beija a vida em todas as suas facetas. Correm
por becos escuros, com a certeza da saída, e quem já
passou pela linha do equador, essa mistura escandalosa
de frio e eloquência, medo e cinismo, ou a entrega
precipitada ao que, mesmo que saiba, arranca a raiz
da planta de flor, que, embora crescida, não se enriquece
em toda estação. E as mães e os pais, âncoras sempre
reflorestadas pela memória, nos são, por dentro, a coisa
mais inteira; rios suaves e quedas de ribanceiras. Então,
a linha reta, rarefeita, ainda que emoldurada no tempo,
quando não se dissolve, se esfacela. Dessa forma, pensamos
maduros, uma polifonia de vozes entranhadas na terra, essa
mesma da planta, da flor e de propenso descanso.