Alupandê
veja bem
meu senhor
os entes
do calor
estão
em terra
veja bem
vassuncê
vossa mercê
à meia-noite
alupandê
não demora
meio-dia
nada alivia
a quentura
nem amém
nem hosana
na altura
nem o som
belém
bleim
blom
dos sinos
da igrejinha
belém
bleim
blom
alto e bom
canto de galo
treme-cavalo
na hora grande
o caldeirão
ferve sem fundo
no breu do mundo
de sol a pino
o ponto, o hino
vai de gaitada
pelos ares:
cântico guardião
o caldeirão
ferve invisível
aquecido pela
brasa do dono
o dono da gira
mandou tocar
batucar verbos
pois, veja você
que nunca viu
quem nunca viu
venha ver
tem dendê
na batina do padre
batom vermelho
na saia da comadre
quem nunca viu
venha ver
o rei do maculelê
o barão do terreiro
a rainha do canjerê
a madame do freiro
na porta dos bares
matreiros, galantes
cavalheiros perfeitos
sempre vigilantes
à beira da alcovas
fascinantes, faceiras
tais moças trigueiras
notáveis diamantes
entre copos e taças
champanhes, cachaças
um assopro de recado:
"o revés morto ontem
morreu com a pedra
que atiramos hoje"
veja bem
meu senhor
os entes
do calor
estão
em terra
aqui, não
se erra
a proteção
o caminho
a direção