Alupandê

veja bem

meu senhor

os entes

do calor

estão

em terra

veja bem

vassuncê

vossa mercê

à meia-noite

alupandê

não demora

meio-dia

nada alivia

a quentura

nem amém

nem hosana

na altura

nem o som

belém

bleim

blom

dos sinos

da igrejinha

belém

bleim

blom

alto e bom

canto de galo

treme-cavalo

na hora grande

o caldeirão

ferve sem fundo

no breu do mundo

de sol a pino

o ponto, o hino

vai de gaitada

pelos ares:

cântico guardião

o caldeirão

ferve invisível

aquecido pela

brasa do dono

o dono da gira

mandou tocar

batucar verbos

pois, veja você

que nunca viu

quem nunca viu

venha ver

tem dendê

na batina do padre

batom vermelho

na saia da comadre

quem nunca viu

venha ver

o rei do maculelê

o barão do terreiro

a rainha do canjerê

a madame do freiro

na porta dos bares

matreiros, galantes

cavalheiros perfeitos

sempre vigilantes

à beira da alcovas

fascinantes, faceiras

tais moças trigueiras

notáveis diamantes

entre copos e taças

champanhes, cachaças

um assopro de recado:

"o revés morto ontem

morreu com a pedra

que atiramos hoje"

veja bem

meu senhor

os entes

do calor

estão

em terra

aqui, não

se erra

a proteção

o caminho

a direção

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 26/03/2024
Código do texto: T8028291
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