poema 8

8. Escrever sobre o cotidiano parece mais fácil

um atalho, mas por algum motivo que já não me recordo bem

escrever sobre o cotidiano é tão difícil quanto

estender a roupa no varal

ou a visita ir embora

quando olho para o lençol bege amassado

e a pilha de livros que foi mudada recentemente para o chão

entre o espelho e a cama

aí sim parece que as palavras vêm como uma chuva forte no inverno

mas nada é perfeito

então me permito ao lençol amassado

à pilha de livros e a frustração

de uma ideia recém nascida

divago na incerteza

da ponta do lápis entre a mão e o papel

divago por um instante na abertura sutil da janela

e na aspereza de um cacto

desperdiçando pouco a pouco

na frente da geladeira

alguns minutos que poderiam ser divididos

durante o domingo ou quem sabe no sábado seguinte

mas tudo isso parece tão distante

então me agarro à silhueta misturada ao lençol

a intenção de ficar pequena

escalar a pilha de livros e buscar por palavras prontas

vocábulos que eu ligue uns aos outros

e crie um corpo

uma geladeira nova

um cotidiano.

Amanda Queiroz
Enviado por Amanda Queiroz em 24/03/2024
Código do texto: T8027013
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