O Horizonte Invisível
Nas profundezas, onde o medo se entrelaça com o osso,
Eu, uma sombra entre sombras,
Não busquei.
Contra o muro, erguido não de pedras, mas de sonhos desfeitos,
Meu olhar, um abismo que devora estrelas.
Não lancei perguntas ao vazio que me encara,
Perguntas nuas, destituídas de ornamentos,
Que, na ausência de eco,
Ofereceriam apenas o silêncio -
Um presente envenenado, mascarado de paz.
Não ousei tocar as águas escuras do lago,
Cujo abraço é um convite ao esquecimento,
Nem o reduzi a uma mera miragem.
Recusei a liberdade de um espírito cínico,
Preso em um labirinto de carne,
Separado da verdadeira beleza por um véu de ilusões.
Mas, em um momento fugaz,
Na inocência de um olhar,
Vi na escuridão
A promessa de uma luz.
Na praça dos meus sonhos,
O rosto de uma audácia delicada,
Num instante se tornou
A única estrela no meu céu noturno -
Iluminando, prometendo
Que talvez, ali, uma nova cidade pudesse nascer,
Uma ilha de redenção e renascimento.
Despojada de pretensões,
Com a terra sob minhas unhas,
E o rosto banhado pela chuva da renovação,
Reconstruída não como alguém amado,
Mas como a luz que guia minha própria escuridão
Até a margem deste sonho,
Onde a palavra, mesmo ensanguentada,
É o meu bem mais precioso.
A sombra de um desejo,
Seus contornos, sua essência,
Sua voz de muitos significados
Que me liga a universos desconhecidos,
Revelando-se não apenas como carne, mas como mensagem.
E, embora o espaço seja estreito,
Esta fibra de memória acende uma chama austera,
Iluminando um passado antes velado pela noite,
Agora combustível para minha alma.
Entre um suspiro e outro,
A vida se desenrola,
Desvendando-nos em silêncio
Para uma verdade que, na penumbra,
Desenha as formas extáticas da existência.as coisas são, embora, em algum momento, em turva poeira não pareça
O tempo é essa máquina, tecelã de ilusões,
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que não destila a vida como é, mas como poderia ser
se, aos nossos olhos, fosse mais do que mera sucessão de instantes.
Não, o tempo não é um alquimista da verdade,
mas um artesão que desfaz o real,
despojando-o do que a idade oculta sob suas dobras,
da forma como nossos olhos, já turvos, contemplam o mundo,
ou da sensação de ser, não meramente algo, mas a essência do ser,
ainda que isso nos pareça uma gema preciosa, é algo que o divino não sanciona,
mas por um corte em sua carne, como se fosse
o mais breve dos contatos com o caminho, absorve
aquilo que, com tanta avidez, o mundo questionamos,
com uma fome insaciável; então, o tangível
perde sua forma, pois o raro se torna ainda mais escasso
com o passar dos anos, até que o que parecia perene
revela-se apenas desilusão. O tempo nos distrai e, ao mesmo tempo,
nos comprime, para que o nascimento mais doloroso
seja por nós experimentado, e o tempo, sem pretensão de saber, outorga
àqueles de firme certeza, dúvidas suficientes para
que essa convicção, nele, se desvaneça,
O tempo não extrai nem disseca a vida, mas com sua
ciência, que é o próprio ato de desaparecer, abre nessa existência outros
caminhos, mais amplos e imprevisíveis do que aqui percebemos
Não estava perdido, mas à espera de ser descoberto, embora
só possa ser visto quando não olhamos diretamente para ele, mas através
de outro, sem o qual, nosso olhar se torna arrogante.