POEMA ABORTADO

Hoje abortei um poema

que foi expelido de mim

tão rápido

tão brusco

tão prematuro

Não fosse a pressa

essa inimiga da perfeição

deixaria de aniquilar versos

como se fossem diminutos minutos

ao invés de pedaços de uma vida inteira

No afã de um poema versos se quebram

que nem aquele braço fraturado

por andar ligeiro e apressado

sem olhar direito o chão da calçada

Tudo tem seu tempo

assim um poema deve ser gestado

afinal a poesia não tem prazo de validade

embora seja alimento para a alma

não tem vencimento e nunca fica estragado

Um poeta açodado

ansioso e acelerado

faz poemas com pés quebrados

que para se sustentarem precisam de muletas

ou vão passar pelos dias sentados ou deitados

Quando um poema demora a nascer

não é porque ele seja vagaroso e retardado

nem algo que se adie ou chegue atrasado

pois ele é feito de versos que sabem esperar

o momento certo de serem desabrochados

O destino de um poema tranquilo e sossegado

é vir a ser agradavelmente degustado

e assim poder se transformar em imortalizado

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 22/03/2024
Reeditado em 22/03/2024
Código do texto: T8025574
Classificação de conteúdo: seguro