tempo grávido
O chuva nos escolhe e nos recoloca no frescor de um andaime,
E nós, nos tornamos, ainda que o tempo queime no peito, o frescor
De uma brisa pra sempre sorvida como vento do espírito, e elevamos
Nossas mãos, tocamos o ventre do céu à espera de outro milagre, já
que já nascemos e esse céu chuvoso, não é mais que o sagrado nos abanando sua beleza.
E nos amamos, foi a primeira chuva onde os corpos elegeram-se
Dentro da noite, como uma luz extraída da sombra mais severa,
daí sua elevada voltagem de alegria a nos dizer friagem em nossa pele,
E senti sua língua na minha língua, seu sexo no meu sexo e o fogo
Que nos tornaram uno com sua violência! Oh, vida sempre a surpreender,
a me dizer o seu símbolo mais fundamental numa constelação tão estreita
quando fabulosamente imensa, como também extremada. Outras faces me passaram
Na memória, as tive como as tenho agora no sulco mais escura extraído do
tempo, tempo providente, que todo tempo tem em sua barriga, o tempo é pra
sempre grávido de algo, e frequentemente somos parteira de sua dor, mas o tempo não grita,
Não chora, não pede uma mão para que o apoiamos como um deus mítico,
Que nos levanta ou nos arrebenta, somos nós que morremos um pouco pra
Que o tempo nos dê algum dos seus filhos, e debutamos na chuva, e éramos
A noite que nunca fomos apesar de muitas delas tenhamos tido em nossa
Janela, dessa imensa insanidade embelezada, e hoje, o céu gritou, trovões graves,
Como pai a nos chamar e relâmpagos estridentes como uma mãe a nos
Interrogar, então a chuva, nós, ela, a memória, filha mais frequente quando
O presente nos parece faltar, então a ela buscamos outras vozes que
Acende e assim, ascendemos para que toda pedra também nos veja