chuva dessa noite
A chuva nos escolhe, nos leva,
sobre o andaime do ser, nos refresca.
Somos, mesmo com o peito em chamas,
a brisa eterna, sopro do espírito,
nossas mãos desbravam o ventre celeste,
em busca de um abraço que nos complete.
No amor nos encontramos,
primeira chuva, onde corpos se reconhecem,
luz emergindo da sombra venerada.
Tua língua na minha, tua essência na minha,
um incêndio que nos unifica em sua fúria.
Rostos na memória, marcados no escuro mais profundo,
bebemos da fonte dos deuses errantes,
o frescor do tempo, ventre sempre fértil,
nós, parteiras da dor silenciosa do tempo,
que não clama, não lamenta,
mas nos desafia a sustentar seu peso,
a morrer um pouco, para renascer em seus filhos.
E na chuva, debutamos,
na noite que nunca fomos,
apesar das muitas noites testemunhadas,
da janela de nossa existência,
onde outros navegam, delírios de uma beleza caótica.
Hoje, o céu clama, trovões como um pai,
relâmpagos, inquisitivos como uma mãe,
a chuva, nós, ela, a memória mais constante,
quando o presente se esvai,
buscamos outras vozes,
para ascender, para que até as pedras nos reconheçam.