Glorinha
Glorinha saiu de casa
e ela ainda não voltou.
Não me disse para onde ia
nem por que me abandonou.
Glorinha se foi de dia,
mas no meio da noite alta
eu sozinho no meu leito
vou sentindo que me falta
a doçura dos seus lábios,
os seus dentes no meu peito.
Faz-me falta a voz macia
ao falar no meu ouvido
coisas próprias da libido
quando o amor acontecia.
Hoje inteira mais um ano
que este fato sucedeu.
Não sei se Glorinha é morta
ou se quem morreu fui eu.
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Na ilustração, Flores de Verão de John W. Godward (Reino Unido, 1861-1922).