Celebração
E as memórias, aves de asas largas,
Despertam e se desprendem do leito onde jaz
Apenas o vazio e o silêncio, e nada
Persiste, exceto esse escândalo luminoso.
Neste instante, tão sombrio quanto repleto de esperança,
Não respiro por vontade própria: é a vida que emerge
De seu sono ancestral, o menino percorre
A terra com seus cabelos de sol, saltando
Para além da morte enquanto decifra o caminho celeste, e os
Muros se dissolvem em uma vertigem de
Amor, pois as flores desabrocham, o sol
As banha, e grava seu nome na pele
Da existência e tudo é ar, e todo ar
É feito de palavras sussurradas, remo que corta a água viva,
Meninas tecem seus poemas de amores
E as amo com todo o coração, suspenso
Num andaime de espera, todas elas dignas do perfume
Que acalma as tardes e transforma o dia em um balanço.
As marés ascendem, embaladas pelo céu dançante,
E celebro a distância, pois as luas do coração
São festas de um tempo pleno, de florestas
Que conhecem o mundo mais profundamente e anoitecem
Mais cedo que os dias; essas pequenas pedras são constelações,
Galáxias, um tomo já inscrito com verdades míticas.
Desses amores, o que mais dói é ainda possuí-los,
E a luta é por um rosto que encontre os meus olhos.