dai-me uma noite para que possa conhece-la
Solicito a noite, destilada, pura,
Dai-me a frescura da escuridão para preenchê-la,
Uma noite onde a brisa é mais do que ar,
É a respiração do infinito, sussurro de existir.
Noite estrelada, cada luz um segredo ancestral,
O céu, um tecido bordado com o fio do mistério,
Abraço do universo, onde amores se encontram.
Peço essa noite, para nela me perder e me achar,
Para sondar as profundezas de seu véu oculto,
Onde os astros narram o pulso do desejo.
Que a noite seja mais que escuridão;
Um cosmos onde a imaginação embriaga.
Lua, seja qual for tua cor, tua fase,
Imensa no crepúsculo, discreta ao zênite.
E que, ao contemplá-la, sinta o consolo
De uma existência que se transforma,
E me veja não como estrangeiro, mas parte
Deste milagre cósmico.
Anseio por uma noite em que uma figura feminina,
Terra e desejo, me faça mais do que sou;
Uma mulher, árvore, raiz no abismo,
Que conhece a escuridão não como temor,
Mas maravilha, e aspira tocar o céu.
Braços que envolvem, coração e desejo que silenciam,
Tornando-me cúmplice de sua essência delicada.
Que nossa dança seja de paixão e paz,
Ecoando a quietude que abraça o universo.
Que seu riso seja luz, pele, presença,
Sem o peso de um viver não vivido,
Mas juntos, desfrutando o momento,
Como grãos de mesma medida,
Compartilhando quedas e sonhos.
Uma mulher de gravidade e graça,
Que conhece o calor das pedras e a sombra das nuvens,
Sem perder a fé na beleza de ser.
Equilibrada entre o divino e o abismo,
Bela, entregue, numa noite que transcende o tempo.
Peço essa noite, essa mulher,
Para inscrevê-la na pele do instante,
Não um enigma, mas um mistério vivido.
Que essa noite, essa mulher, seja a escrita
Na pele do agora, aberta, esperançosa,
Um toque do divino, corajosamente terrena,
Na noite que me define, em coices e carícias.