a noite destilada, dai-me
Dai-me uma noite fresca para que possa preenchê-la.
Dai-me uma noite, dessas em que a brisa habita
E corre pela sua atmosfera, lembrando-nos de que
O espírito também habita o mundo. Uma noite dessas,
Que o céu compensa com belas estrelas e aqueles vultos
De claridade, como se o céu quisesse nos mostrar um segredo,
cujo coração são braços que se abrem para que o corpo do
Amado seja acolhido. Dai-me essa noite para que possa alegrá-la
Para a minha própria sorte, para que eu compreenda qual
O tamanho de sua envergadura, do que guarda no seu
Subterrâneo mais discreto, para que o movimento dos astros
Seja visto pelos olhos, também sentido pela velocidade do sangue
E pelo pulso de meus desejos. Para que ela seja não somente
Noite, mas uma extensão de um cosmo em que todos nos deitamos
Quando alcoolizados pela imaginação. Que seja uma noite de lua, pálida
Ou vermelha, amarela ou branca, que seja uma lua enorme
No começo da noite, embora sóbria e elegante no meio do céu.
E que eu possa olhá-la e dela receber o conforto de uma vida
Que altera, ainda que seja a mesma, e que tenha a clareza
que eu não seja um convidado, mas desse milagre também
participo. Uma noite onde uma mulher
Carnuda e feliz me torne mais crescido; uma mulher que seja
Como árvore, enraizada nas profundezas, que tenha do escuro,
Não medo, mas a maravilho de o ter penetrado, e que queira assaltar
o céu ainda que lhe pareça impossível . De braços
Compridos e generosos, que me abrace com o coração e com
Seu sexo que inerva todo o silêncio que a rodeia e que me
Torna cúmplice de sua intimidade mais delicada. Que se dê ao
Meu desejo, que faça de sua descida à morte mais desejada,
Não apenas o gemido que sustenta a carne em ebulição,
mas uma clareira onde dançaremos a mesma volúpia e a
quietude que guarda todas as coisa também no guarde em
sua música. Que ri, que tenha riso nos olhos, que tenha riso
na pele, no lábio mais que relaxado e tenha riso na presença,
tão forte, tão extrema, receptiva, amorosamente favorável,
Que não traga o peso de uma vida
Que não seja vivida, mas rememorada, que não pela acalento
mas nós dois os desfrutemos juntos, e sim, ambos seja
passageiro da mesma peneira, que nossos grãos tenha
volumes semelhante e que, analogicamente falando, tenhamos
em comum tantos as quedas superadas como as aspirações
rebobinadas, Uma mulher que tenha aquela gravidade que
Nos causa reverência e uma cerimônia comportada, que
Sabe das pedras aquecidas do verão mais celibatário, mas que
Tenha experimentado as estrias das sombras, o testemunho
De um cosmo, às vezes verniz, outras vezes embrutecido,
E nem por isso perdeu a fé e a beleza de ser mulher, que
Sabe que o sangue é arterial, mas venoso quando em retorno.
Uma mulher que não se inclina a qualquer extremo, mas
Se equilibra entre o céu e o fosso, que seja linda, que
Tenha sexo na pele e nos olhos, que se entregue, ainda
Que, para o coração não se baste uma noite. Dai-me
Essa noite para que a noite me seja como ela; mesmo
Que tenha medo, uma noite que não seja um enigma, basta
Que seja um mistério a ser vivido. Dai-me essa mulher
Dessa noite já descrita para que eu a escreva na pele
Do momento, livre, aberta, alegremente, vertiginosamente
entranha pela esperança, que tenha algo da santa, mas
seja puta a sua coragem, que me nessa noite, embora, certas
noites, que não são essa, me consumiram, de tanto coices