rios e afogamento

Na margem laboriosa, pedra e areia,

serenidade da floresta se encontra,

rio após rio, uma catedral de cristal, sinuosa,

destino marcado, símbolos cravados na terra:

o silêncio, o coração amordaçado.

Numa clareira, o sol toca o chão firme, lúcido,

esconde o terremoto, a chuva impetuosa,

semente de dúvida, de medo,

insegurança, o enigma que consome e acalora.

Signos desconectados, inertes, mudos,

a terra em parto, a tristeza sob o manto oculta,

o tempo imóvel, indiferente,

um labirinto sagrado, exílio, pranto.

Infância petrificada, um lago de fel sombrio,

paixão incandescente, mesmo sob o gelo,

como cadela que uiva à porta aberta, anseio,

pela goela devoradora, clamor, desespero.

Pulso intemporal, sangue ancestral,

nas profundezas, ressoa uma voz,

leal à diáspora, louca, desenfreada,

na terra, o nome do algoz.

Deflorou a vida, na ânsia de um sorriso,

na penumbra úmida, o domínio secreto,

na senda de sussurros, signos, fuligem,

artéria cósmica, imagens trêmulas abraça.

Palavras tramadas em sangue, pulsantes,

portas violadas, mãos cruéis as recebem,

na trama, nasce uma flor, sabe-se flor,

aqueles que no rio se afogam, a ela se submetem.