vulto

Nas veias da terra, o sangue se anuncia,

um vermelho que não se pode nomear,

descendo, desenhando o curso

de uma agonia que colore

a pedra, o osso, o invisível.

Eis a silhueta, delgada como a última respiração

de um deus esquecido,

que reina em sua queda,

fresca, breve,

uma inteireza banhada na luz

de um sol que não conhece crepúsculo,

silenciando a vertigem,

esse precipício que nos dobra,

não em medo, mas em maravilha.

O sopro, afiado, se desfaz na borda

do abismo, onde nada começa ou termina,

pássaros tecem o ar, formigueiros

sussurram a eternidade,

e o bicho-da-seda, em seu último esforço,

tece a esperança de um fio.

Quanto ao inferno,

deixe-o consumir o que já se desfez,

persistindo apenas na memória do fogo.

Aguarda-se o vulto,

nascerá das cinzas,

uma cidade onde a alegria é a única lei,

e o sol, generoso, nos emprestará sua sombra.