Fogo Fátuo

Da varanda tão assustado

Pulo e corro pro telhado

Vejo e rezo ao abençoado

Se contar não é acreditado

Clarão na noite acinzentado

Já ouvi que sou culpado

Mente sã, corpo suado

Vejo vir subindo o mato

Já nem sinto mais o tato

Queima a relva e o olfato

Olha a luz que leva ao quarto

Se esconde como um rato

Combustão de osso barato

Fogo fede, fogo fátuo

Cemitério assombrado

Rogo a qualquer alado

Qualquer santo ou enteado

Vejo o couro arrepiado

O chão treme apavorado

Faço um solo desafinado

Mente crua, corpo usado

Vão me dizer que é boato

Que o que vi é insensato

Sequer checariam o ato

Me chamariam de novato

Ao ouvir esse meu relato

Mas juro, fiquei estupefato

Fogo feio, fogo fátuo

Vejo o portão encostado

Mortos vivos, ser condenado

Sinto meu pé acorrentado

O meu lar está desarmado

Ao ver o fogo encarnado

De almas do outro lado

Mente vazia, corpo quebrado

Até que o momento exato

Em que tudo fica pacato

A luz é um lampião chato

A mão é só um velho gato

A criação é dom ingrato

Da mente de um não beato

Fogo fere, fogo fátuo

João V Zibetti
Enviado por João V Zibetti em 16/03/2024
Código do texto: T8021171
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