Fogo Fátuo
Da varanda tão assustado
Pulo e corro pro telhado
Vejo e rezo ao abençoado
Se contar não é acreditado
Clarão na noite acinzentado
Já ouvi que sou culpado
Mente sã, corpo suado
Vejo vir subindo o mato
Já nem sinto mais o tato
Queima a relva e o olfato
Olha a luz que leva ao quarto
Se esconde como um rato
Combustão de osso barato
Fogo fede, fogo fátuo
Cemitério assombrado
Rogo a qualquer alado
Qualquer santo ou enteado
Vejo o couro arrepiado
O chão treme apavorado
Faço um solo desafinado
Mente crua, corpo usado
Vão me dizer que é boato
Que o que vi é insensato
Sequer checariam o ato
Me chamariam de novato
Ao ouvir esse meu relato
Mas juro, fiquei estupefato
Fogo feio, fogo fátuo
Vejo o portão encostado
Mortos vivos, ser condenado
Sinto meu pé acorrentado
O meu lar está desarmado
Ao ver o fogo encarnado
De almas do outro lado
Mente vazia, corpo quebrado
Até que o momento exato
Em que tudo fica pacato
A luz é um lampião chato
A mão é só um velho gato
A criação é dom ingrato
Da mente de um não beato
Fogo fere, fogo fátuo