abril
Abril, em seu desabrochar, não se esconde,
como se a mesma procissão de anos a fio
sobre meus dedos se dobrasse, e aquela árvore,
altiva em minha juventude, ainda questiono
se de seus frutos posso me alimentar.
Minha fome, de largura tal que um lago sereno,
ainda que profundo, contempla,
para que, em sua essência, seja compreendida.
Nos encontrávamos em becos escuros,
onde mal se via, mas a maciez de suas mãos,
com poros vibrantes, buscava as minhas,
e essa jovem, na memória ainda mais viva,
sabia da eloquência da voragem da vida,
antes mesmo de sermos decifrados por ela,
mostrando-nos que a vida, antes de ser sentida,
carrega em si cobre e veios de prata,
virgens e destemidos na vontade de não ser enigma,
mas sim uma viagem necessária,
um prazer despojado de palavras,
ou da sombra arrastada por não ter visto
como o céu noturno se assemelha a uma mulher perplexa,
questionando qual parte do cosmos a convidaria para dançar.
Naquela noite, até o silêncio a contemplava,
com uma espera paciente, enquanto a juventude,
como olhos numa jarra de sal, aguarda a carne
para ser curada, sabendo que o fogo já espreita
aqueles desavisados de que há um reino
onde os anos são desviados para ruas de expressão vazia,
uma praia cercada de intimidade, onde as ondas
nos questionam sobre a origem de nossa fala.
Eu, jovem e ignorante de que até os porcos se alimentam na sala,
desde que as palavras proferidas carreguem o amargor
que se acumula nos umbrais de cada conversa,
era uma gravidade atemporal, da qual todos éramos prole,
carregando-a nos ombros, crendo ser um silêncio nacarado.
Não abra os olhos, nem mergulhe nas águas profundas,
nem permita que o asfalto se torne seu manto iluminado.
Aprenda a falar com a pele, a murmurar com os cabelos,
a gesticular com os braços, pois além do fogo,
nada mais há a buscar. É na rua do fogo
que as brasas assam ou consomem tua queixa mais fundamental.
Não morrerás do excesso de solidão, nem da nunca ter escalado
uma montanha, mesmo seduzido pelas estrelas.
Impaciente é a espera, trágicas são as imagens, surreais,
mas não apenas isso; são a flor do real em um campo
injusto de pedras e arames, se lembrarmos dos bosques
que nos cegaram com sua beleza violenta.
Não olhe para uma despensa vazia, desprovida do dia
em que a vida se faz mais presente. Olhe pela janela do quintal,
tua paisagem cordial do coração, pois essa é inabalável,
mesmo que por excesso de exigência nos enganemos.
Os gramados menos majestosos também são generosos
com aqueles que lhes confidenciam um segredo.
E o vazio é sempre um poema a ser feito, uma canção ainda jovem
à espera de tua melodia. Se amargo foi o gosto, é a vida
a mostrar suas facetas mais agudas, sua inclinação mais artística.
Então saberás que navegas em um rio, ou ele te navega
pelos meandros de teus pensamentos, e tudo na correnteza
são cidades em ruínas, pois o mundo se apresenta virgem
àqueles que permitem que as cidades dentro de si pereçam,
devoradas pela máquina do desejo. Simplesmente seja;
e se não for possível, chore desesperadamente,
e como um desalojado, clame aos céus,
pois é de lá que os frutos doces são lançados.
Em abril, o vestígio não será discreto,
Como seria é a mesma procissão que a anos
Dobra sobre meus dedos e aquela árvore
que se ergueu altiva na minha juventude, ainda hoje
Não sei se seus frutos são comestíveis, embora
Minha fome, cuja largura lembraria um
Lago sereno, embora, profundo, já deu-lhes a exposição
Para que possa ser compreendida, lembro que
Encontrávamos em beco escuro, escuro sim, mal via
As maciez de suas mãos, com seus poros excitados buscando minhas mãos,
pois essa jovem, ainda mais bela na memória
Sabia ser eloquente em sua voragem, e nada como a juventude
Antes de ser compreendida para nos mostrar como a vida
Depois é mal sentida, porque nela que tem o cobre e as jazidas
De pratas, virgens e destemida em sua vontade da vida não ser um
Enigma, mas extrema e necessária viagem,
prazer sem o peso da palavras, ou daquele que arrasta suas sombras
ressentidas por não ter percebido como o céu a noite lembra uma mulher
perplexa a perguntar saber, que parte desse cosmo me chamaria pra dançar
nessa noite, alguém, até o silencio a contemplasse com uma espera,
a paciência e juventude são olhos numa jarra de sal esperando a carne
para ser salgada, já que o fogo já espreita a todos que não sabe
que há um reino onde os anos são desviados para rua de expressão vaga,
uma praia rodeada de intimidade enquanto as vagas nos encaram
nos perguntando o idioma de qual viemos
Eu era jovem e nada sabia que os porcos também
Comem na sala, desde que haja nas palavras oferecidas o amargo
que um dia depois do outro acumula nos batentes de cada conversa,
era um gravidade fora do tempo e todos dela éramos filhos,
e quase todos nascemos e a carregamos entre os ombros acreditando
ser um silencio aperolado,
não abra os olhos ou mergulhe na água mais funda,
nem faz do asfalto teu manto iluminado, aprenda a dizer com a pele,
balbuciar com os cabelos e fazer beiços com os braços,
pois além da do fogo não o que buscar, pois e na rua do fogo
onde as brasas assam ou queima tua queixa mais elementar,
não morrerá do excesso de se saber só, nem que nunca tenha subido
uma montanha, mesmo que já imaginastes seduzido pela estrelas,
é volumosa a impaciência, é trágica as imagens, surreais, nem chega a isso,
é a flor do real em uma imerecido descampado, de pedra e arame,
se lembrarmos de quantos bosques já nos cegaram com a beleza mais violenta.
E não olhe para uma despensa vazia, desprovido do dia que a vida se faz mais presente,
olhe a janela do quinta, tua grata paisagem do coração, pois essa é inabalável,
mesmo que dela nos enganemos por excesso de exigência, os gramados menos babilônicos
também são generosos com aqueles que lhes conta um segredo,
e o vazio é sempre um poema ser feita, um canção ainda imberbe a espera de tua harmonia,
e se o travo foi dos mais descentes, é a vida lhe mostrando seus dotes mais afiados,
sua vertente mais artística, então saberá que navega em um rio ou ele te navega
no interior de seus pensamentos e tudo nessa correnteza são cidades destruídas,
porque o mundo é virgem para aqueles que deixa morrer as cidade que já souberam
que teu encanto já foi devorado pela máquina do desejo, apenas sejas,
e se não der chore desgraçadamente, e como um indigente, clame ao alto,
pois é de lá que as frutos doces são jogadas.