DIAS MORTOS

Como um trapezista de um circo

cujo o ingresso comprei na infância

vou dar um salto mortal sobre o dia

e cair no amanhã de olhos vendados

Sobre a palidez desse dia assassinado

que dele não levarei qualquer memória

deixarei um amontoado de horas mortas

aterradas no esquecimento da minha história

São mais de vinte mil dias vividos

quinhentas e tantas mil horas finadas

milhões de minutos sepultados

e uma multidão de segundos aniquilados

No diário onde estão os meus evocados

tenho mais lapsos e hiatos do que palavras

vastos intervalos prolongados onde trago

a ausência das lembranças que não me ficaram

Sou um todo preenchido de ocos e buracos

cadáveres dos múltiplos dias em mim apagados

por onde me interligo no silêncio da desmemória

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 12/03/2024
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