DIAS MORTOS
Como um trapezista de um circo
cujo o ingresso comprei na infância
vou dar um salto mortal sobre o dia
e cair no amanhã de olhos vendados
Sobre a palidez desse dia assassinado
que dele não levarei qualquer memória
deixarei um amontoado de horas mortas
aterradas no esquecimento da minha história
São mais de vinte mil dias vividos
quinhentas e tantas mil horas finadas
milhões de minutos sepultados
e uma multidão de segundos aniquilados
No diário onde estão os meus evocados
tenho mais lapsos e hiatos do que palavras
vastos intervalos prolongados onde trago
a ausência das lembranças que não me ficaram
Sou um todo preenchido de ocos e buracos
cadáveres dos múltiplos dias em mim apagados
por onde me interligo no silêncio da desmemória