UVA PASSA.

Na penumbra da sua cor

Alvos dentes resplandecem.

Você me olha com olhar morno,

Uma gota rola na folha triste.

Vejo o abandono passear no tempo

meu corpo imprestável tentando mover.

Pra onde irei, um passo, dois gemidos,

Está composto recital da idade.

Não tenho mais o garbo do incauto,

O que fiz é pouco para me salvar.

Tento amarrar as calças,

Luto para mi compor.

A idade é trem que atropela,

O espelho me revela uva passa.

Você me olha e não entende,

O tempo é bola que viaja no campo.

Quando assustamos

O jogo já acabou.

Nesta partida não há ganhador,

Claudicam pobres e ricos.

Mas isso não importa

O que importa é o abandono.

Ficar velho na sociedade desalmada

Tem o teor de pedra de cem quilos.

Você me olha e me espera,

Vai embaraçar minhas pernas.

Vai nublar meus olhos

Vai reduzir minhas ações.

Vai se apoçar de mim,

E me tornar tão pesado.

Não tenho mais pressa,

E minha alma me olha e sorri.

Seu cárcere está ruindo,

O pássaro irá voar.

A gaiola será águas passadas,

A essência escapa da vida louca.

Um momento triunfal,

Onde toda dor procura seu lugar.

E o homem orgulhoso,

Não almeja nada mais.

Escrito em 12/03/2024

Divino Ângelo Rola
Enviado por Divino Ângelo Rola em 12/03/2024
Reeditado em 14/04/2024
Código do texto: T8017941
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