fora do paraíso

No vasto campo de relva, onde o perfume se ergue como uma prece,

o céu azul se funde com o verde num abraço eterno,

o dia entrelaçado ao tempo como irmãos siameses —

amor que nos é dado em mistério sereno, em pantufas de névoa.

À frente, crianças, na manhã que mal se contém no seu nascer,

Ela, a extrema, na alvura do desejo, na suavidade do sumo campestre,

sentada, o lençol acolhendo frutas, o suco ainda a pulsar frescor,

seus braços, languidez de leite a descer na boca de uma ovelha de olhos atordoados.

Como saber, se as flores ainda guardam o orvalho fino da manhã,

quando o pássaro anuncia que a terra tremerá

e ela buscará refúgio num buraco escuro,

recusando a saída até que seus pensamentos se rendam à casa de cedro?

Observo-a, viva, ardente, um vértice de aromas,

estrela infante na vastidão inalcançável,

amada desde que era folha nova, ouvida na clareza do fruto menos tocado.

Amava-a no retrato da memória, onde a beijava,

seus seios alvos e virgens, a auréola escurecendo o cume,

conhecida de cor no pensamento, no coração,

qual pele tremendo como pedra no lago antes calmo, agora vibrando de prazer.

Todo seu corpo era puro; impuro era eu,

que no escuro da casa, nos becos da vida,

extraía dela o doce mais íntimo, o mel da abelha mais ousada.

Oh, becos da minha vida, onde as feridas se tornam certezas,

quando a encontro nos pensamentos mais selvagens,

seus braços não mais laços de fogo, mas promessas

de que o céu não está tão distante, mas no fundo de cada porta que se abre.

E como pecava, no desejo carnal, na gula violenta,

na ambição insaciável, no amor talvez pertencente a outro,

vindo da montanha mais alta, com seu próprio limpador de sapatos.

E o pecado da luxúria, essa transformação covarde,

quando o amor não sacia, mas apenas sua forma mais perversa.

Sento à beira do lençol, ela, leve, oferece uma fruta com malícia,

dizendo: “gosto muitos dessas manhãs prazerosas”

Palavras são inúteis, especialmente no limiar entre queda e elevação,

ela morde a maçã, e imagino-nos expulsos desse paraíso,

abraçados pela verdadeira vida, onde a nudez e a ausência de vergonha seriam nossas únicas vestes.

Sobre o vasto e perfumado campo de relva

o azul do céu se agarra ao céu enquanto o verde

se apruma no chão, o dia, esse espaço entrelaçado

a esse tempo como irmãos siameses, nos ama com

seu mistério sereno, sua pantufa fleumática, lá na

frente as crianças como essa manhã que mal sabe

se comportar de tão nova, Ela, extrema, e da brancura

do desejo, na maciez do sumo mais campestre, sentada, o lençol

recebendo as frutas, o suco ainda fresco, seus braços

de uma languidez que lembra leite derramando lentamente

na língua de uma ovelha de olhos estremecido, não sabe, como

saberia se tuas flores ainda tem o orvalho mais fino do dia, do

pássaro no galho lhe dizendo que em algum momento

a terra vai tremer e ela se esconderá em um buraco escuro,

e que mesmo que tenha uma saída no teto, não sairá

enquanto seus pensamentos não cederem à casa de cedro,

eu a olho, viva, extremosa, um vértice de aroma ou uma

estrela ainda criança na vastidão que não se encontra,

amo-a desde que era a folha mais jovem, e ouve, claro,

quando era a esmeralda menos procura na bancada, e eu amava

pelo retrato de memória já preenchida onde eu a beijava

e seus seios brancos e virgens, sua aureola que lhe amorenava

o ponto mais alto, sabia-a de cor no pensamento, de coração,

e sus pele se estremecia inteira como uma pedra jogada

lago antes sereno e que agora um tremor de prazer lhe corre

a superfície, e teu corpo todo era puro, quem não era puro era eu que

em pensamentos dos mais endiabrado a possuía no escuro da casa

e dela extraia o melado da cana mais doce, o mel da abelha

mais assanhada, oh, beco do lado, oh, beco da minha vida

onde minhas feridas se tornam da flor, a sua certeza na intempérie

que lhe persegue, da antiga casa, quando a encontra em

um desses pensamento destreinados e de pouca educação,

e seu braços não eram mais argolas de fogo a me dizer

que o céu está não tão alto mas no fundo de cada porta

Que nos se abre em lúbricos convites, onde o ventre

de todas as horas, e do tempo mais remoto nos faz seus

fetos, ainda que embrenhado de sombra e já parco de luz

inexato e trêmulo, estava sentido aquela dor que nos enforca quando

o desejo, ou seu germe mais luminoso, não se embrenha

junto à floresta e desmaia na sombra rente a clareira para acordar

abraçado ao mais fecunda imaginação, e como eu pecava,

pecado da carne, imperdoável, pecado gula mais violenta

da ambição intragável, da cobiça, essa sempre suculenta

vontade cachoeira onde o desejo apenas se pronuncia,

o pecado de amar o que talvez seja de outro próximo, desses

que virá da montanha mais alta e tem seu próprio limpador de sapato,

o homem que lhe dirá o verbo necessário, o breviário que

acalmara seus irmãos mais queridos, e como não falar do

pecado da luxuria, essa covardia que à força nos tornamos

quando o amor não sacia, apenas sua perversão mais

virulenta, devagar, entre esse seu de uma vida já feita

e essa relva que sempre renasce pra ser amada, ou alimento

do carneiro da lã mais tranquilo, sento à beira do lençol,

ela, leve, maliciosamente me oferece uma fruta, dia: “gosto muitos dessas manhã prazerosas”

nada digo, palavras não serve, ainda mais no limiar entre a queda

e a juventude elevada encorajada por rajada de vento esvaziada,

sentamos no mesmo lado do encontro, ela morde

a maça, qual Eva enganada por alguma perdição,

então, eu me imagino, logo a seguro, expulsos desse paraíso abraçado

pela vida verdadeira, onde não teríamos roupa e também não

teríamos vergonha.