Diário de um ex rebelde

Medidas extremas tomadas,

Não,

Não vou ligar pra mais nada.

Abaixa a arma,

Fim da revolução,

Estou bem,

Tenho casa,

Comida e dinheiro,

Quero paz em meu coração.

Os manos e minas,

Das quebradas,

Que se virem,

Quero a inércia,

Que a miserável vida me propôs.

Revirei lixos,

Fui submetido a escassez,

Passado,

Essa história conto depois.

Hoje,

E a partir de hoje,

“Eu só quero ficar bem”!

Esqueci as goteiras,

Da geladeira vazia,

Da raiva,

Do ódio,

“E deixar sem chão,

Quem riu de nós sem teto”.

Releio textos,

De livros antigos,

Sou ritmo,

Embalo a favela,

Apesar de adormecido.

Ratos consomem migalhas de um homem,

Homens choram pela falta do pão,

Eu aqui,

Com meu iPhone,

Só quero fazer outra bela canção.

“Eu só quero ficar bem”!

Bem longe,

Daquilo que me agrediu um dia,

Da violência estrutural,

Inserida nas periferias,

Do preconceito,

Ouço os açoites,

Gritos,

Distantes,

Aumento o volume,

Me ouço em canção.

Despertador toca,

Caminho para horta,

Prático a yôga,

E meditação,

Me isolo do mundo,

Que chamei de meu,

Os meus estão salvos,

Talvez não os seus.

“Eu só quero ficar bem”!

Rinhas aparto,

De galos,

Pois irão parar em minha cozinha,

Enquanto a fome,

Maltrata,

Assola,

Ovos brotam de minhas galinhas.

Intelectual de rima e prosa,

Quero a paz,

A calmaria,

Se um dia fui embora,

Esqueci a rebeldia.

O banquete está servido,

Orem pela covardia,

Essa,

Hoje me assola,

Ante a minha tirania.

Me esqueçam!

Pois,

“Eu só quero ficar bem”!