ainda esperando

Instalo-me na cama, menos ordinário,

Na penumbra que borda de sombras este quarto,

Não demoro a achar a página já marcada,

Testemunha muda dos dias acumulados.

A vela chora cera, a chama dança só,

Um espetáculo para os fantasmas que espiam,

Da platibanda do mundo, despojado,

Revela-se mais candeeiro, nos consumindo.

Nossa pele, cúmplice, não busca a salvação,

Da moça de afetos fluidos, toque suave,

Amada enquanto abria as janelas da noite.

Casa vazia se torna caminho de luz,

Não houve lágrimas, julgamentos entre nós,

Engrenagens do mesmo relógio, indiferentes.

Fogos de artifício rasgaram o céu na noite,

Perdemos dois pássaros, um gato preto fiel,

Anotamos em caderno nosso alfabeto.

O mel, puro e doce, selou nossos lábios,

Rememorando o outono distante devorado,

Nosso amor, imortalizado sobre a relva.

Eternizado em um retrato que capturou,

Risos e olhares, um instante suspenso onde,

Meu cabelo apontava para o infinito.

Seus braços eram refúgio, os anos marcados,

Pela incerteza que levou um prefeito, um vendedor,

Agora repousam na quietude de um quarto.

Anseia pelo mel prometido, o retrato vigia,

Sussurrando a doce melancolia de um amor,

Que, apesar das sombras, ainda ilumina os dias.