um imerso
O gesto impuro denuncia,
sob o céu imóvel, a memória congelada:
um coração submerso em imagens
de desastres extremos,
onde se perdeu o rio de tua essência,
a corrente que fluía sob o sol ausente.
Em silêncio, junto ao café que hiberna,
espera uma boca cuja língua conhece
o sabor do sangue - esse líquido da vida
que escapa pelos poros quando a dor
transcende a medida,
revelando o colapso da existência,
não como expressão dos amantes,
mas como a eterna noiva da vida
que adia sua consumação.
Acendemos velas por um mundo melhor,
enquanto nossas membranas, frágeis,
mal cobrem o vazio exposto
às vísceras da indiferença.
Apenas sentimos a fragata à deriva,
onde a amada se lançou
e sob nossos pés descobriu
o destino mais extremo.
Adornamo-nos com palavras não ditas,
sob o peso que mal podemos pronunciar,
com os ombros suspensos
falamos do medo que sufoca a
aqueles que buscam passagem,
por um caminho estreito onde as frutas
não são colhidas -
os braços são desarmados
e o beco, imerso na escuridão.
Andrade de Campos