Roda de choro
bebo a cachaça
do autoelogio
para bem cessar
o frio imaginário
esse vício inútil
débil, sem aprumo
nem valia
nem nada
fumo um cigarro
pigarreio, cuspo
arreio os cotovelos
no balcão do boteco
trago novidades:
susto na arquibancada
visto uma lingerie
rendada, demagógica
afrontosa de gênero
subversora da lógica
que repele aos
tolos de ocasião
aos medíocres
sobressalentes
peida-tangas
na existência
que por excelência
quedam-se bêbados
faço uma oração
pelo contrário
da agremiação
sou escorraçado
desfiliado, orfão
desfamiliarizado
lambisbeijo o chão
das calçadas
lambisgoias caçoam
ressoam gargalhadas
o sentinela social
me vigia os passos
a lâmina me espia
sorrateira, secreta
postes de energia
concebem a luz
essa estranha luz
que salva e acolhe
essa luz humana
ultradesumanista
esse brilho opaco
paradoxista
tanta negação de si
que sorri às avessas
essa estranha luz
que induz ao erro
aos breus do senso
em tempo ensolarado
pela rua, retraço
a rota e ouço sons
ademais, o maroto
chorinho me alcança
tristeza não quero
quero dança
das rodas de choro
um chiste de pandeiro
entrevero de cavaco
pitaco de bandolim
assim, a flauta chora
emocionada, sonora
alguém estende
a mão em gentileza
um copo de pinga
com certeza
bebo a cachaça
do compadrio
para bem cessar
o frio da razão