EVASÃO & NOSTALGIA
Aquilo que eu mais queria
era poder reviver meus melhores dias.
Cobrir de eternidade o fragil tempo dos meus passados
e saber o amanhã sem o peso de tanta nostalgia.
Queria reviver meus mortos,
ignorar os vivos,
o futuro, os silêncios
e tormentos
de uma existência
assim tão vazia.
Queria mesmo
não ser jovem,
nem estar velho.
Saber o corpo,
dos outros e do mundo,
como uma unidade perfeita
entre ação e desejo.
Aquilo que eu mais queria
era abandonar a realidade,
não tomar de mim
mais qualquer conhecimento.
Deixar a memória
inventar dias distantes
de lazer e alegria
onde eu possa sonhar
antes do fim do mundo
uma existência plena
de pura banalidade
e profunda poesia.