Grandeza
(Orlando Fedeli)
Ter o olhar voltado para as claras estrelas
Não temer as duras batalhas, mas querê-las.
Águia fitando o sol, viver para as alturas,
desprezando as coisas baixas, vis, obscuras.
Amar só os horizontes vastos e azuis.
Odiar os negros charcos e mortos pauis.
Ter a alma sem medo, covardias, tremores,
Valente e forte como o rufar dos tambores.
Ter na alma claras notas de clarins de prata,
e nos lábios um canto ardente que arrebata.
Ser impelido pelos ventos da epopeia,
longe das calmarias podres de vida ateia.
Entre nuvens de fumo, ódio e de poeira,
Ousada e desafiante, desfraldar bandeira.
Qual falcão atacar, desprezando o perigo,
tendo olhos só para Deus e o inimigo.
Não temer jamais nem as armas, nem as vaias,
nem o combate franco, nem as vis tocaias.
E, não fugindo nem da arena, nem do sorriso.
ver, na morte e cruz, as portas do Paraíso.
Jamais calcular o número do inimigo.
Mas contar só com Deus, com Santiago e consigo.
Por justo combater, mesmo que solitário,
sem ver o número, enfrentar o adversário.
Viver abrasado de amor pela verdade,
Encantado pela beleza e poesia,
mantendo no coração a fidelidade
aos ecos longínquos de uma canção bravia.
Escutar, escutar sempre os clarins de glória,
chamando ao combate, proclamando a vitória.
Amar a solidão do deserto ou do mar
ser fiel até a morte e jamais capitular.
Não temer ser desprezado ou tido por nada,
não querer senão o triunfo da cruzada.
Ter uma alma agressiva que não retroceda,
Não ter no coração nem baixeza, nem lama,
mas de heroísmo, ser ardente labareda,
ser da verdade arauto; da pureza, chama.
Viver sempre enamorado pela proeza,
a alma sempre firme ancorada na certeza
sedenta de Deus, de infinito e de grandeza.
(São Paulo, 1975)