ENTRE O CHÃO E O SILÊNCIO

Nada que possa ser dito

ressuscitará meus ouvidos.

Não estamos mais dispostos a acreditar,

a buscar verdades ou discursos para nos conformar ao mundo.

Nenhum poder, moral ou divindade nos imporá limites,

assim como nenhum humanismo nos definirá

Não colonizaremos o outro.

Viveremos nos limites de nós mesmos

como toda planta e animal

que por pura necessidade

inventa seu mundo.

Não queremos ser eternos.

Abominamos a ideia de uma alma imortal,

toda bobagem sobre salvação

ou terra natal.

Nos importa apenas o efêmero,

o desimportante e banal instante

no qual se esgota nossa eternidade.

Tudo que nos importa não tem relevância.

Renunciamos a tradição e a memória,

a qualquer vestígio de nossos pés no mundo.

Nossa vida não cabe nas palavras de um livro.

Viveremos indiferentes a verdade e a razão,

entre dias e noites,

chão e silêncio.