MARGINÁLIA

É preciso desistir de si e do mundo,

resistir a tradição e ao contemporâneo,

recusar tudo que nos tornamos,

o que demasiadamente somos

como ato e memória.

Renunciar a tudo que nos foi ensinado.

É preciso declinar, fracassar.

Morrer mil vezes por dia,

se necessário,

para renascer vagabundo.

Somos os desajustados e marginalizados

que fugiram da escola.

Os improdutivos, os perigosos

e evadidos da realidade.

Somos os que não param de sonhar,

delirar, de correr riscos,

e reivindicar outros valores,

outros mundos e formas de vida.

Somos a marginália, a boêmia.

Os niilistas que desacreditaram de tudo

e nada esperam de nada.

Somos a aventura de nossa renuncia.

Somos a ausência de futuro.