ciclos

Aqui, neste ponto de fuga onde meus pés

Desenham não caminhos, mas o instante cravado,

Um ciclo se desenrola, onde nossas vozes,

Em conluio, tecem uma epiderme de existência

A cada giro, a cada retorno ao ponto de partida.

Enganamo-nos a pensar a estrada uma linha,

Quando cada casa, cada campo, cada fragmento de bosque

Renascem com o sopro vital que, em cada vertigem,

Faz vibrar o âmago dos homens.

Quantas revoluções para medir a dimensão do abismo,

A sombra que se estende, o sangue que, em sua maré,

Anuncia que a morte é, da vida, a amante mais selvagem?

Não, meu amigo, não é na soberba que encontramos solidez,

Mas no tremor e na agonia indomável que brotam

Do vale mais sombrio, onde a verdade se decanta.

E lá, uma sereia de promessas elusivas

Sussurra que há terra firme sob nossos pés errantes,

Que há prazer em se perder entre suas pedras.

Somos, então, engrenagens que se ajustam à perda,

Ao campo imponente que se pretendia o mais verde lar

De nosso tempo — um tempo que nos asfixia,

Mas que, em seu estrangulamento, nos faz vivos.