modos
Essa dor é minha, como os sapatos de cadarço que calço,
E a camisa, vista de longe, presente de uma amiga antiga.
Não consolo essa dor, não a suavizo com lixa fina,
Nem a adocico em mel para saboreá-la em jejum espiritual.
Não há vento que a disperse, impossível,
Pois cada um tem sua masmorra a limpar,
E todas as manhãs descem com o mesmo brilho.
Não a deixo esquecida no fundo do baú,
Como aqueles jovens de luminosa beleza
Que com força traficada quebram orgulhos.
Não, não a enfeito com as flores mais alegres,
Aquelas damas terríveis que adornam jardins e mesas festivas.
Essa dor é o tempo, meu tempo que se expressa sem palavras,
Mudo, onde a língua é rígida e falha em tecer
O tecido que une as almas na mesma colheita,
Ou no sabor que se torna comunitário.
Ao dormir, ela me acompanha, comprime meu peito,
Respiro fogo, temendo cair onde seus pés se fixam,
E as esperanças mais ingênuas jazem enterradas.
O tempo, ferreiro habilidoso, forja essa dor
Em massa disforme que talvez se torne fechadura,
Uma panela de ferro, torre de nossas infâncias,
Um grande prego que une as madeiras dos currais,
O ferro de passar que, com brasas, dá um calor diferente,
Não esse misturado na enfermaria da dor.
Quando o seu rosto, já sei que ele se esconde
quando outro traço, dele, se faça meu.