Ame a vida, ame-a a qualquer custo
Só há paz porque existe guerra
E só apenas o arco-íris existe
Porque a tempestade passou.
Só há morte porque existe vida
E só há vida pois o acaso é real.
Até quando vais, oh homem
Perambular em torno de tudo o que achas ser o fim para ser feliz?
Não é a vida tanto possível de a própria descobrir e testá-la, amá-la, vivê-la em suas mais sórdidas vias, de suas mais
simples maneiras
Alcançando-a quando ela se ergue aos olhos que não são os seus
E agarrando-a com mãos que não as suas são?
E dizem os que não crêem nas relações de interdependência de tudo que
existe e é: a coincidência é a força motriz que a tudo impulsiona - mas não seria obra esta de um possível criador de tudo?
Apenas penso pois tenho alma
E só me envolvo em adornos existenciais - armadilhas da própria alma - pois sou pensante demais, e por pensar demais caio em minhas próprias emboscadas, fico à mercê de tudo o quanto demasiado confio
Enrolada em trapos que chamo de trajes reais.
Só há busca porque o encontrar não reside em lugar algum, está sempre a procura do achar no próximo degrau a subida e a surpresa que validem a escolha.
Só há luta pois alguém perdeu antes na história? E só há continuidade na batalha porque é possível que se vença?
Só há estorvos, impasses, orações
Porque a carne é fraca, é forte, é tudo
E só há redenção pois a alma é volátil, é sagrada, canta aos céus que lhe obedeçam e estes a ouvem com nobre devoção.
Ao fim do ensaio que é a vida, me despedirei com ciência de minhas tantas fraquezas, minhas tamanhas estrondosas forças: será que estou eu me endividando para com a vida futura
E pagando cada centavo que devia com meus nervos, minhas peles, meus corações, cérebros
Todo o circuito que de corpo chamara
E toda alma de que alma mesmo nominara? Porque só haverá ressurreição das memórias porque a morte é uma incógnita - mas é a incógnita mais latente que poderia
Impulsionar que o homem o hoje, viva.