Canção de Batalha
Não é só o medo que fala
É a casa inteira que canta
Não é o barulho da sala
É o silêncio que se levanta
Como no furor da batalha
O riso ardil que espanta
Que o sangue ferve e atrapalha
O coração que se desencanta
Nem tudo cabe na mala
E nem toda esperança adianta
Não são as palavras certas
São as que sentimos no tato
Não são as mentiras discretas
Mas as inverdades de fato
Que antecipam a batalha
O momento lento e chato
Onde o corpo estremece e falha
O grito que não vem no último ato
Nem tudo são asas abertas
E nem todo caminho é pacato
Não é a saudade que vem no porto
É um delírio pelos fiéis
Não é um mero olhar absorto
São lágrimas duras e cruéis
Pela aquela última batalha
O jogo investindo num revés
E a carne contaminada espalha
O veneno que sobrou nos anéis
Nem tudo floresce nesse horto
E nem todo olhar tem algum viés
Não são mágoas guardadas com zelo
São os muros de uma fortaleza
Não são alimentos para um pesadelo
São sacrifícios para a sobremesa
Ecoando um canto de batalha
Contra toda e qualquer princesa
E que essa guerra de algo valha
Os soldados já estão na mesa
Nem tudo que se sonha é belo
E nem toda história merece leveza
Não é pela noite atravessada sem paz
É pelo dia em que se perde a crença
Não é a morte do sentimento voraz
É a certeza que se tem de nascença
Que todos perderão alguma batalha
O destino segue o que for de sua sentença
Como uma mão que abençoa e malha
O tempo segue em sua indiferença
Nem tudo tem algum valor a mais
E nem todo mundo vale minha presença