Canção de Batalha

Não é só o medo que fala

É a casa inteira que canta

Não é o barulho da sala

É o silêncio que se levanta

Como no furor da batalha

O riso ardil que espanta

Que o sangue ferve e atrapalha

O coração que se desencanta

Nem tudo cabe na mala

E nem toda esperança adianta

Não são as palavras certas

São as que sentimos no tato

Não são as mentiras discretas

Mas as inverdades de fato

Que antecipam a batalha

O momento lento e chato

Onde o corpo estremece e falha

O grito que não vem no último ato

Nem tudo são asas abertas

E nem todo caminho é pacato

Não é a saudade que vem no porto

É um delírio pelos fiéis

Não é um mero olhar absorto

São lágrimas duras e cruéis

Pela aquela última batalha

O jogo investindo num revés

E a carne contaminada espalha

O veneno que sobrou nos anéis

Nem tudo floresce nesse horto

E nem todo olhar tem algum viés

Não são mágoas guardadas com zelo

São os muros de uma fortaleza

Não são alimentos para um pesadelo

São sacrifícios para a sobremesa

Ecoando um canto de batalha

Contra toda e qualquer princesa

E que essa guerra de algo valha

Os soldados já estão na mesa

Nem tudo que se sonha é belo

E nem toda história merece leveza

Não é pela noite atravessada sem paz

É pelo dia em que se perde a crença

Não é a morte do sentimento voraz

É a certeza que se tem de nascença

Que todos perderão alguma batalha

O destino segue o que for de sua sentença

Como uma mão que abençoa e malha

O tempo segue em sua indiferença

Nem tudo tem algum valor a mais

E nem todo mundo vale minha presença

João V Zibetti
Enviado por João V Zibetti em 24/02/2024
Código do texto: T8006089
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.