PALAVRAS SEM CONTA

PALAVRAS SEM CONTA

no primeiro terço

da minha garganta

tem um soluço interrompido

onde farfalham palavras cortadas

de inacessíveis histórias

que já não se contam mais

uma a uma as contas do terço

garganta a dentro

sussurram rezas conservadas

e um silêncio prenhe

de gritos amassados

se enrosca nos meus dedos de prece

e é só na lembrança

que a vida acontece

o que me resta

é a meia gota da lágrima congelada

tanto frio debaixo das pálpebras

fechadas de imagens sobrepostas

em ciscos de sombras

de rústicas ladainhas

de pais-nossos e salve-rainhas

emudeço-me nos terços renascidos

das cinzas de antigos carnavais

e reclamo a alegria revisitada

ainda em silêncio

nas capelas do tempo

onde os terços não contam mais

Biguleto

Biguleto
Enviado por Biguleto em 19/02/2024
Código do texto: T8002478
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.