PALAVRAS SEM CONTA
PALAVRAS SEM CONTA
no primeiro terço
da minha garganta
tem um soluço interrompido
onde farfalham palavras cortadas
de inacessíveis histórias
que já não se contam mais
uma a uma as contas do terço
garganta a dentro
sussurram rezas conservadas
e um silêncio prenhe
de gritos amassados
se enrosca nos meus dedos de prece
e é só na lembrança
que a vida acontece
o que me resta
é a meia gota da lágrima congelada
tanto frio debaixo das pálpebras
fechadas de imagens sobrepostas
em ciscos de sombras
de rústicas ladainhas
de pais-nossos e salve-rainhas
emudeço-me nos terços renascidos
das cinzas de antigos carnavais
e reclamo a alegria revisitada
ainda em silêncio
nas capelas do tempo
onde os terços não contam mais
Biguleto