EU QUERIA MUITO ESCREVER UM POEMA EU NEM QUERIA ESCREVER POEMA NENHUM
Eu tinha tanta coisa
pra escrever e agora
não me resta quase nada
era sobre:
Os quadros na padaria
que retratavam uma feira
de flores coloridas…
Era sobre: um homem
que deixou os mínimos
detalhes das mínimas
“irritações” da vida…
removerem cirurgicamente
toda a sua alegria de viver.
Mas eu tinha esquecido
o caderno em casa,
a caneta o celular…
Eu estava doido pra que
ele fosse embora e eu pudesse
falar um montão sobre ele.
Mas agora eu não
me lembro de quase nada.
Era sobre tomar
o melhor cafezinho
que já tomei na vida
nos últimos… oito anos.
Era sobre agradecer.
sobre estar bem perto
de fazer… quarenta anos.
Era sobre encontrar
na rua uma mulher cuja
fofoca me contara que
há dois anos, morta.
Era sobre uma garota
que eu achava que daria
uma namorada perfeita
E assim como meu caderno
eu esqueci completamente
que da presença dela no mundo.
E eu não tinha o caderno
porque disse: “vou ali e volto já”
então não precisava levar comigo,
um maldito caderninho…
Era sobre uma cara séria
e repreensiva que aprendi
recentemente a fazer quando
alguém não é educado comigo.
Ela me ocorreu juntamente
com os cabelos brancos.
Era tipo um poema que
ficaria longo demais…
E que então ninguém iria ler
então era melhor que eu me preocupasse
com meu almoço… minha janta,
minha roupa, meu banho, meu repelente,
meu Dorflex, minha gata, minha faxina,
meus talheres, escolher em qual das duas
camas eu irei – não – dormir… esta noite.