CANTIGA À UMA POBRE DONZELA
São pelos fios elétricos,
Por telhas duras ao vento,
Raios de Sol tão herméticos
No muro, cal e cimento.
Dorme, oh, donzela, dorme!
Me poupe desse lamento!
Não vejo mais cantoria,
Nem mulher com violão;
Só lâmina, faca fria,
Suspiro e oração.
Dorme, oh, donzela, dorme!
Conforta teu coração!
Quando o céu fica vermelho,
Se reluz em nossa casa
As nuvens e suas asas
Aparecem do espelho.
Dorme, oh, donzela, dorme!
Guarde bem o meu conselho!
Donzela, rosto da lua
Parece um Sol brilhante
Estrela de diamante
Fala da boca da rua
Dorme, oh, donzela, dorme;
Pois eu te contemplo nua!
Dorme, oh, donzela, dorme!
És inteiramente nua!
Dorme, oh, donzela, dorme!
Me sirva tua carne crua!
Dorme, donzela, dorme!
Que a vida continua
Dorme, donzela, dorme!
Tua tristeza se dilua!