NADA

Eu ia passando pela Praça da República em Belém/Pa, e fiquei observando um mendigo que com o seu chapéu na mão pedia alguns trocados. E o movimento estava intenso e todos com muita pressa passavam pelo mendigo e nem olhavam para ele, até que um senhor, bem vestido, passou bem próximo do pedinte e sem querer pisou no pé descalço dele que fez uma careta de dor, mas logo se recompôs e continuou pedindo, o homem que havia pisado nele voltou e ao passar ele estendeu o chapéu mas o homem apenas olhou para ele e passou direto enquanto outros mudavam de direção para evitar de passar mais perto. E eu fiquei ali mais de 30 minutos e ninguém parecia ver aquele homem, então eu pensei. Esse homem deve sentir-se um “Nada”, e fiquei com aquilo na mente e ao chegar em casa coloquei no papel em forma de poesia para mostrar ao mundo o que nós podemos fazer com muitos dos nossos irmãos por não termos mais tempo nem mesmo para olhar um pouco em nossa volta.

Se você me perguntasse o que sou;

Lhe responderia: “Nada”

Se você me perguntasse o que quero;

Lhe responderia: “A vida”

E você me diria,

por acaso não vives?

Em resposta eu diria:

“Não”

Eu respiro...

Como posso viver sendo nada?

Eu confesso que sinto,

Que sonho, que sofro...

Mas viver, “Nada”

Nada na mesa...

Nada na sala...

Nada na bolsa...

Nada no peito...

O coração já cansou...

Como posso viver sendo nada?

Você passa por mim, pelos cantos da vida,

meu corpo seminu, minha roupa curtida.

Você pisa em meu pé

com seu sapato novo,

se mistura com o povo,

e de mim nem deu fé.

Não sou nada, mas sinto a dor.

A dor do pé,

e da falta de amor.

Mesmo por nada, eu estendo o chapéu;

em vez de gritar, eu olho pro céu,

E lhe peço um favor,

já esquecido da dor,,,

Mas o olhar sem carinho,

você muda o caminho;

Outra vez tenho “nada”

Mas você me ajudou,

me fez ver o que sou...

‘Nada”

Mário Margalho
Enviado por Mário Margalho em 15/02/2024
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