mineiros cavoucando a terra escura
No vasto e inesperado silêncio,
o abismo narra as pedras de sua margem
como se fossem entidades aterrorizadas –
uma vastidão impessoal, extrema,
complexa, obscena, interna, enigmática,
um arbusto de folhas metálicas,
com raízes que, do mais profundo abismo,
sorvem desta terra sua alegria mais sonora.
Em um domingo qualquer
ou numa quarta-feira de cinzas,
sob um céu talvez nublado,
e as memórias congeladas,
nós testemunhamos – ou melhor, sentimos –
a desajeitada tessitura deste espaço,
tecido na rede do desvario.
Se fôssemos marinheiros,
seria o mar agitado,
a esperança devorada por ondas e
maremotos, uma mãe,
a dor pela partida do filho,
um filho, o pai vencido antes do tempo,
fragilizando os alicerces que lhe davam
o conforto nas horas sombrias.
Mas é apenas um reino onde nós,
mineiros desde o nascimento,
com o tremor constante de nossa profissão,
escavamos a pedra luminosa que iluminará
a mais espantosa das construções barrocas,
o óleo que falta à nossa lâmpada,
a puxada do querosene no candeeiro.
Com isso, atravessaremos a casa
e suas paredes serão apenas paredes,
seus cômodos apenas cômodos,
e portas e janelas estarão fechadas,
pois, lembraríamos que as havíamos fechado.