ENTRE PROMESSA E ILUSÃO
Há algo de carnavalesco,
de subversão,
fantasia, sonho e delírio,
no enredo de nossos dias.
Algo de ilusão ...
um sentimento estranho
misturando desgosto,
esperança e tédio,
no labirinto de cada existência
marginal e periférica.
Há sempre, entre nós , alguma angústia vagando sem solução,
um desejo dessociado do gozo,
de qualquer ideal de redenção.
A vida, afinal, é uma promessa
que nunca é cumprida,
uma eterna expectativa,
uma latência,
uma potência,
engasgada em nossa insignificância,
enterrada na solidão,
nos silêncios e sonhos,
que dão cor e gosto ao permanente espetáculo de nossa coletiva agonia.
Não cabemos naquilo que vivemos,
no vagão do metrô e no ponto de ônibus,
e exigimos a liberdade de um eterno carnaval,
uma permanente promessa de fuga,
a liberdade da possibilidade
de um quase possível amanhã sem dia.
A vida é a frustração desta promessa
que se sempre se renova.
Ela é uma grande decepção.
Mas ninguém vive
sem um generoso gole
de fantasia e ilusão.
Há algo de carnavalesco em nossas feridas expostas,
nas dívidas acumuladas
nas faturas do cartão
e falas vomitadas fora de qualquer contexto.