SENTOU-SE À ESPERA

SENTOU-SE À ESPERA

arrumou a roupa mais nova

ajeitou no corpo emagrecido de dias

penteou os cabelos

recém lavados

embranquecidos de vidas

colocou nos pés ressecados de andanças

os sapatos não tão novos

confortando os pés

nas meias de seda das meias verdades

destampou o vidrinho

quase vazio de perfume

esborrifou nos pulsos

um aroma cheio de saudade

naquela idade de solidão profunda

ainda se iludia que poderia

ser lembrada

ser companhia

para os filhos

para os netos

naquele passeio

naquele domingo

lembrou-se de colocar na bolsa

o lencinho bordado

a capa dos óculos

e um documento qualquer

que provasse a sua existência

sentou-se à porta

e esperou

e esperou

e esperou…

e descobriu

que ninguém a viu

ali sentada no meio das sombras

que a noite

visita silenciosa

deitou sobre sua espera

sobre seu anseio

a triste realidade

ninguém veio

Biguleto

Biguleto
Enviado por Biguleto em 12/02/2024
Código do texto: T7997622
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