"Novo tempo"

Nesse ano novo

Novo tempo

Quero para mim

A aquiescência da razão

A cumplicidade da loucura

O desprendimento do santo

Quero uma mão a afagar-me

Nos meus dias de desamparo

A companhia de uma luz

Que ilumine as ruas escuras que me habitam

E aponte-me a direção do horizonte que perdi

Nesse ano novo

Novo rumo

Quero a sabedoria da paisagem

Que se mostra emoldurada nas minhas lembranças

Desde a infância, os sonhos de menino

Uma estrada, onde eu possa trilhar

O meu destino

Sei que já andei quase metade do meu tempo

Ou já terei andado quase todo o tempo que me foi reservado

Mas, não posso desistir agora

Vou em busca de um destino mais amplo

Menos preso as convicções que se enraizaram

Nesse ser que sou

Diante tempo que me resta

Nesse novo ano

Quero me sujeitar as intempéries

Aos orvalhos, as tempestades

As inundações, aos terremotos

Furacões

Me desprover das defesas

Me tornar mais humano e menos máquina

E poder errar, sem que a consciência me roube

Noites e noites

Quebrar a blindagem, destruir as muralhas

E me tornar mais amigo,

Estender a mão que tanto neguei

E se uma bala perdida me encontrar

Que eu morra como gente indefesa

Como tantos já morreram

Nesse novo ano

Quero me desviciar das dores, da solidão

Me desvencilhar do vício de sempre achar

Feio o que não for espelho

Demitir o narciso que fez carreira em mim

Nesse novo tempo

Serei mais carinhoso

Amarei mais

E se eu me arrepender,

Que eu me arrependa

E não aprenda nada com o erro

Quero ser como todos

Que amam sem medos

Nesse ano novo

Quero sentir um amor endovenoso

Correndo pelas minhas veias

Quero amar e amar

Sem medidas

Nesse ano novo

Nova vida

Quero reaprender a sorrir de mim

Das minhas angustias

Dos meus medos

Como um louco que se aferrolha a loucura

Para se distanciar da realidade ruim

Quero sim, rir de mim

Para ter forças de superar as barreiras desse novo tempo

Que amanhece enfileirando desejos

Ah! Eu quero nesse novo ano

Um beijo que tenha a eternidade de um amor cúmplice, amigo,

Um amor abrigo onde eu possa deitar minha mente confusa

E juntos possamos saborear o prazer de amar,

Não somente de corpos, mais de almas se entregando

Desafiando o tempo

Amando o tempo

Fazendo o tempo

Eternidade

Varley Farias Rodrigues