porta
Entre aberta e fechada,
a porta não é uma escolha,
mas um hálito:
o convite ao limiar onde o mundo se desdobra.
Aberta, ela é o convite do cosmos,
uma pausa no infinito,
onde o sol dialoga com a sombra,
e o dentro desperta no fora.
A porta aberta é promessa,
a turmalina que brilha na penumbra
e o sol que desafia a janela -
um cosmos que dança na palma da mão.
Fechada, ela é o mistério, a sedução do não-dito,
o silêncio que fala mais alto que palavras.
A porta fechada guarda o invisível,
o nome que minha noite procura,
o desejo enclausurado entre a memória e a esperança.
A chave para o que está além,
a sombra da imagem,
o melancólico absurdo de ser -
estou dentro, estou fora
Na fechadura, um universo:
a possibilidade de ser e não ser,
de abrir e fechar,
de entrar e sair.
Minha mão estendida não busca a maçaneta,
mas a essência do que significa cruzar, atravessar
o batente, cujo a passagem nos emerge
para uma vertigem de corpos e palavras,
A porta, em sua simplicidade,
é o enigma da existência,
a linha tênue entre ser visto e se ocultar,
entre o todo e o nada.
A porta se fecha,
e eu, do lado de fora, contemplo a minha própria agrura,
o rio encapsulado em uma espaço pequeno,
a estridente vontade de sair, de ser, de tornar-me
com ela, paraíso festejado sobre pele de um tempo
tão breve quanto interminável
a armadura que se dissolve na água,
a chave que se perde no fluxo ininterrupto
da vida que, em sua assombrosa beleza,
nos convida a dançar sob a tempestade,
a perdoar, a ser leve,
a cruzar o umbral onde tudo começa e tudo termina.