a menina que dança
Sob um manto de nuvens dança a menina, luz do sol,
Frescor e encanto se fundem, dia esplendoroso revela.
Na alegria silente, dissonâncias são esquecidas,
Pois retornar assemelha-se ao partir, amar é parecido
Com a repulsa, tão comum, mas a vida não se prende
À ida ou à volta, vive-se no girar, no ser que se contorce,
Não é sombra que confunde, nem luz solar que ao chão castiga,
Mas na inconstância, na experiência assombrosa que se vive,
Na incessante dança de nascer, de morrer, repetindo
Que a soma pode divergir, ainda que pedras no caminho encontre,
Sob essa exaltada sinfonia, a menina salta, ri, dança,
Ela e os meninos tecem o mais glorioso espetáculo, pois
Quem observa também participa, o menino é a menina,
Dançando sob o sol, na fervorosa cascata de sentido,
Amado e travesso, em seu estridente silêncio, o encanto
Que céu e terra unem, e todos ligados pela mesma essência,
A canção sussurrada, que poros e palmas narram, fala
De nascer, crescer, luz nas trevas tornar-se, comunicar
Ao musgo, à delícia de quase morrer a cada instante, que
Também dança, e seus olhos são naves entre folhas, pedras,
Nas ondas de cada vale, molhando-se em areias cadeiantes,
Atuantes, afetados, todos parte do improviso e da história,
Herança do pai, do avô, memória de uma dança ancestral,
Revelando que a vida, em sua essência, dança quando vive.