a boca
A fruta vacila na iminência de ser colhida,
Sabendo-se doce, um espetáculo aos olhos,
Cheia de sabor, enquanto seu ser se aquieta
E seu paladar se intensifica na língua enamorada,
Que vibra de um prazer supremo,
Destituindo o mundo de sua ordem
Enquanto a boca se rende,
Não mais ao prelúdio, mas ao evento
De estar em vertigem
E seu sabor se entrelaça nas papilas
Que, enfeitiçadas, se revestem do sabor supremo,
Esperando por essa noite uma boca, e então outra,
Que se apaixona e deseja como ansiava pela fruta,
E este banquete a antecipa para a noite mais aguardada
Onde, agora, são os corpos condimentados pelo desejo
E pela chance de compartilharem o mesmo círculo,
Onde a união se consuma e o cosmo se realinha ao ato,
De forma que as luas mais úmidas e as estrelas mais ansiadas
Se provocam mutuamente, cientes
De que uma mulher encontra um homem e, nesse encontro,
Os braços se entrelaçam com outros braços,
Odor a outro odor, e a boca, sabedora de tudo,
Se entrega ao beijo que desvenda da noite seus segredos mais profundos,
E na travessa mais fina, o amor é servido àqueles
Que nele se lavaram em sonho, onde a chama os guiava para dentro.