a vida como um livro

Na moldura da janela,

o vento inscreve perguntas sem respostas

num crepúsculo que hesita entre luz e sombra.

Uma flor, quase um segredo,

sussurra algo inaudível,

tocando a superfície

de algo tão profundo quanto o olhar

trocado entre estranhos.

Cabelos se espalham como raízes em busca de água —

a beleza efêmera que se desfaz ao toque.

Há uma linguagem no vento,

um alfabeto de ausências,

que só o coração, em sua solidão povoada,

pode começar a decifrar.

Errante, o vento desenha caminhos na areia

que ninguém vai seguir,

adoça o final do dia

para alguém que talvez sonhe com ele.

Revela-se no movimento das árvores,

na pele arrepiada,

no suspiro dos que se deixam levar

por carícias que ninguém mais vê.

Da minha janela, vejo o mundo se desdobrar

em ciclos de consumir e renascer.

A tempestade canta uma canção de força e desafio,

e nós, embriagados pela vida,

caminhamos por esta trilha de existência tão breve,

rumo à beira do mar,

onde segredos maiores nos aguardam.

Nos assentamos à margem.

A vida se abre como um livro —

crianças, sonhadores, amantes,

cada um seguindo um caminho marcado

por histórias já vividas ou apenas imaginadas.

O amor, essa força que desfaz barreiras,

que transforma pedras em lágrimas,

sombras em memórias.

Falamos do dia a dia, da fome e da sede,

da alegria simples de um cão correndo livre.

Da folha que dança ao sabor do vento,

traçando um destino que só ela conhece.

Renascemos a cada amanhecer,

abençoados pelo conhecimento ao entardecer,

e à noite, finalmente, descansamos.

E, no fim, encontramos redenção neste amor —

sabendo que um dia carrega em si todos os outros,

navegamos não como meros espectadores,

mas como aqueles que, com tochas em mãos,

iluminam a escuridão.