DIAS DE PREGUIÇA

Há dias em que a preguiça

é maior que a vida

e o tempo se desfaz em silêncios, inércias

e mansas melancolias.

São dias onde tudo que importa

é esquecer.

Não querer,

não pensar ,

não saber,

não sentir,

não estar,

quase não ser.

Neles nada acontece.

Não há novidades.

Só tédios, tristezas e botecos.

Tudo parece prestes a desaparecer

com o próximo passo

ou terminar com um instalar de dedos,

com uma tosse, um suspiro,

um susto, ou, ainda, talvez,

quem sabe, com um tiro.

Um sono nos diz

que tudo já foi vivido,

sentido e pensado.

Que não há mais nada por fazer,

que é tarde demais,

que a vida passa mais depressa

quando pensamos nos mortos

e em tudo que se desfaz.

Tais dias deveriam acabar

com um estalar de dedos,

com um suspiro,

com um susto,

salvas de palmas ou festas.

Mas são dias que nunca terminam,

que continuam acontecendo dentro da gente,

na contramão das rotinas

e através de uma preguiça

que não para de crescer.