AUTORRETRATO.
Pudessem elas,
As palavras que calei
Preencher todos meus cantos
Ocos, confusos, vazios
No intervalo de piscadelas...
Arrumar meus pensamentos
Tão soltos, bobos, tão loucos.
Vão perdendo a morada
Esses, que habitam minhas ideias
À espera dum destino
Alcançando novo rumo
Com escassez das horas,
Dessas, que atrasam a morte.
Rimas já não importam
Tampouco delas necessito
Sequer das sílabas contadinhas.
Melhor percebo com o olhar
Aquém do passo que nunca dei.
Cai a noite pela vidraça
Com silêncio enlutado
Caladas bocas sem as letras.
Num exílio de mim mesma
Faço de conta que me encontro
No sonho que dá na praia,
Sujo a página de areia
Junto ao corpo que habitei.
Elenice Bastos.