Poesia bocuda
Palavras não escritas
vidas cruzadas
em cruzeiros de encruzilhadas
numa morte súbita do papel principal
na "vida-coadjuvante" propensa ao destino.
Nasce um poema de mim
em desencontros marcados
pela linha do tempo.
Erros e desencontros
das pontuações de sapato
e do texto escrito pelos oráculos
prevendo a tragédia grega
que carrego nas costas.
Assim nasce o poema
tão vago, notívago, à toa
à todo-vapor!
Um poema-de-mim
que emerge do fim
de outras pessoas.
Certas histórias dadas ao fracasso,
quantos eu-líricos não morreram...
para dar lugar a este eu-autor?
Eu fumo um maço
no mês de Março
só para rimar com teu amor.
O que nos resta são estampas de revista...
Compra à vista
Amor às cegas
um verso-piegas
selvagem com um bicho
que tu amassa e joga no lixo
do shopping de luxo.
Mas quantas vozes...
sequer viram a luz do dia?
Enrustida na solidão das praças
numa mistura de raças
em que se assa tempos velozes
do que foi e seria.
Uma depressão geográfica
que, psicologicamente, me afunda em altitudes
distorcendo o espaço-tempo da minha passada
e me vencendo amiúde.
O alaúde
toca o som de trombetas envenenadas...
com amargo da minha saúde.
Mas a vida nasce do desencontro
da poeira dos meus livros de História
e varrem o meu tempo
pra debaixo do tapete.
Eu, que nasci estragando tudo...,
sou a origem das espécies futuras
que num encontro às escuras
hão de transformar o mundo
antes que ele suma.
Ou quiçá serão apenas mais uma
dessas tantas espécies de poesias bocudas.
@sr.poetrus [Ronald Castelo Branco]
Teresina-PI, 05 fev. 2024.