"O HOMEM" DIÁLOGOS DA PANDEMIA
Não sei por que mas nunca quis postar esse texto de 14 páginas, que escrevi durante a pandemia. Não consigo ver muito sentido nele... Mas esse ano decidi que minha obra não será mais julgada por mim.
"O HOMEM"
DIÁLOGOS DA PANDEMIA
[2020]
O cara que já estava “meio-velho” tinha um cachorrinho preto e em sua mesa branca havia uma agenda com um retrato do ator Bela Lugosi em seu papel de Drácula. Ele procurava uma agenda. Uma agenda que… na verdade, era um caderno velho. E o cara “meio-velho” folheou as páginas a procura de alguma coisa em branco. Sempre havia anotações de telefones com siglas e lembretes que foram feitos para – na verdade – se esquecer no final. Nem haviam mais amigos a serem lembrados… e nem inimigos a serem vingados. “O número de telefone – se não usado – é só um rabisco. Uma formula deixada por um professor de física. Só que a classe não estudou e mal frequentou as aulas. Portanto, pros alunos, são apenas rabiscos deixados no quadro… Arma de vingança. Pelo deleite de vê-los agonizar e encarar a esperança. O PROFESSOR RI…”. O cara “meio-velho” sempre pensava nessa pequena história quando via aqueles números no seu caderno. “A lei geral é que os alunos sempre odeiem seus professores? E que os professores acabem odiando a si mesmos… Por não conseguirem a enorme PROEZA… e nobreza de cativar seus alunos. O PROFESSOR CHORA…”… O cara “meio-velho” sorriu. E talvez ele fosse jovem demais pra passar o dia escrevendo e velho demais para comer batatas fritas e hambúrguer numa terça-feira. Todos viviam o fracasso. Um apocalipse meio sem enormes estrondos e sem trombetas.
Antes de começar a escrever em seu caderno cara “meio-velho” já estava cansado e sem ânimo. Como ele era “meio” velho mas também “meio” jovem… Não compreendia tão bem os novos aparelhos… as novas formas de usar e abusar da tecnologia. Evitava muita comunicação virtual (chamadas de vídeo e etc). Ao mesmo tempo… era jovem demais pra se apegar 100% a sua vitrola, e seus chás… e também os cochichos malignos dos vizinhos. Nada de noticiários e debates sobre política também! Achava injusto que o apocalipse se encerrasse no momento em que política tornar-se-ia inevitavelmente sedutora...
*continuo amanhã...