ODE DOS DESDOBRAMENTOS.

Nuvens afogueadas no horizonte,

Céu de fim de tarde, início de ano,

Acima das mais altas montanhas,

O dia vai dando passagem a noite,

A campina verdejante enche os olhos,

Os ventos suaves e mornos do verão,

Uma casa simples à beira de um lago

ladeada por inúmeras árvores frutíferas,

Pássaros cantando na copa das árvores,

Uma infinidade de asas e de cores

anunciando o despedir de mais uma tarde,

A noite surgem repentinamente

com os seus braços cobrindo tudo,

Depois o silêncio repousando absoluto.

A inocente criança apenas observa,

Contemplativa e hipnotizada pela beleza,

Ela enche os pulmões de ar fresco,

Sente a brisa suave soprar na face,

Ela quer absorver daquele paraíso,

Esconder na memória o momento,

De viagem para terras longínquas,

A criança se despede da natureza,

No íntimo, nuvens pesadas de medo,

A incerteza corroendo por dentro,

Flagelando o seu pobre coração,

Não há mais tempo de voltar atrás,

Um aceno, o último adeus aos que ficam,

Um novo mundo que se descortina.

Um mundo novo descortinava-se novamente,

Cheio de vida, movimento frenético,

Prédios enormes, trânsito enlouquecido,

Avenidas gigantes, buzinas estridentes,

A inocente criança ficou assustada,

Os olhos tentando captar tudo,

Beleza, caos e miséria no mesmo espaço,

Paulicéia desvairada devoradora de almas,

Um aperto forte no coração,

Medo, incerteza e lágrimas,

Era tarde demais para se arrepender,

Outro novo mundo se descortinava,

Menos caótico que o anterior,

Ali o seu universo pessoal existiria.

No peito o aperto, a saudade flagelando,

Tudo era novo, terrivelmente assustador,

Pessoas com os seus estranhos costumes,

Desistir parecia ser uma opção inevitável,

Neste mar de sentimentos confusos,

Os olhos inocentes vislumbrar a beleza,

O encontro de olhares naquele lugar,

O jovem poeta se enamorou pela jovem,

Ela, era apenas um olhar de curiosidade,

Ele, no entanto, era caos e tempestade,

Já não sabia o que fazer no novo mundo,

Foi com o brilho daquele olhar angelical,

Com a curva do belo sorriso se alimentou,

O peso da angústia tornou-se suportável,

Um novo mundo, o primeiro amor,

O coração quase a explodir no peito,

Foi assim que tudo começou.

Aqueles primeiros dias na presença dela,

O encantamento foi de tal forma que,

O coração parecia que ia explodir,

Era difícil se controlar os seus sentimentos,

Os dias foram passando nas asas do vento,

O amor aumentava cada vez mais,

No entanto, não era algo simples para ele,

Havia uma impossibilidade enorme,

Amor impossível, inalcançável,

Talvez esse seja o motivo de todo caos,

O alimento de seu impossível amor,

A beleza dela era tal como das ninfas,

Os dias aperfeiçoou cada detalhe,

Para o desespero do pequeno poeta.

Como uma flor ela desabrochou,

Pétala por pétala revelando encanto,

Nos olhos, o ofuscante brilho,

O sorriso sempre feiticeiro, majestoso,

O corpo ganhou novos traços,

Curvas esculpidas com perfeição,

Era verdadeira ninfa entre os mortais,

Causando terrível inveja entre tantas,

O pequeno poeta também floresceu,

O seu encanto e amor foi aumentando,

Já não suportando tal sentimento,

Escreveu versos de seu amor insano,

Revelou em perecíveis folhas suas rimas,

Aos olhos de todos mostrou a face oculta.

Ela se vestiu de majestade e beleza,

De tal modo como nunca antes,

No olhar faceiro o brilho intenso,

Causando inveja até nas estrelas,

Ele se vestiu de silêncio ao vê-la,

Tremor e medo tomou os seus lábios,

No olhar a angústia cada vez maior,

Arrebentando tudo de dentro para fora,

Aos olhos dela os primeiros amores,

Os primeiros beijos a luz do luar,

O coração batendo descompassado,

Nos olhos dele surgiram lágrimas,

Que se tornaram em rios caudalosos,

Morrendo em seus versos e poemas.

Quem poderá compreender o coração?

Dizem que é terra distante,

Terra cujo caminho é desconhecido,

Inabitável na maioria das vezes,

Assim é o coração do anjo lêdo,

Assim é o coração do jovem poeta,

O anjo lêdo despertando para o amor,

O poeta sendo massacrado por ele,

Dias e noites traiçoeiras,

Angústia e solidão se amontoando,

Um poeta à beira de seu próprio abismo,

O anjo lêdo floresceu finalmente,

Conhecendo as delícias do amor,

O poeta trancou-se nas grades do peito.

Tornou-se desventurado poeta,

Ao vê-la passar ao longe,

Desfilando pelas ruas sua beleza,

Enfeitiçando outros olhos inocentes,

Tornou-se angustiado poeta,

Ao vê-la em outros braços,

Desfilando doces beijos de veneno,

Enlouquecendo corações desavisados,

Ele se fez versos rasgados,

Estrofes escritas no claustro,

Poemas que desejo esquecer,

Ele se fez versos ao vento,

No curso da sua sofrida pena,

Escrevendo no desespero de amar.

O tempo foi gracioso com ela, louco amor,

Já para o moribundo poeta, carrasco,

Enquanto ela se vestiu de majestade,

Ele é farrapo de silêncio, desespero,

Uma folha seca levada pelo vento,

Tornou-se prisioneiro de seus divinos lábios,

Encarcerado no brilho de seu olhar,

Eterno poeta de um amor impossível,

Tal como o sol e a lua, assim eles são,

Habitando o mesmo céu sem se encontrar,

Dias e noites traiçoeiras de desencontros,

Ele a vê todos os dias, então observa e chora,

Vendo o seu impossível amor passar,

Na extrema curva do seu caminho extremo.

( Trecho do livro/ canções do amor em quatro estações)

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 01/02/2024
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