A SÓBRIA TRISTEZA DOS BÊBADOS
Uma das coisas mais triste que há
é um bêbado sóbrio sentado na mesa de um bar
Todas aquelas horas alcoolizadas
o gosto metálico da boca desidratada
a sede ávida e insaciável da alma
o dulçor amargo nas narinas entranhadas
o fígado inflamado das noites em claro
o latejar castigante das têmporas
o tremor infinito das mãos
e um cansaço maior do que o sono
que sempre teima em não chegar
nada foi suficiente para evitar ou apagar
as lembranças que se busca esquecer
nas transitórias ilusões que a bebida nos dá
Não há dor que se cure
no whisky com gelo
no se afogar nas cervejas
no adocicado do rum barato
na piña colada ou no licor de melão
pois para amargura não serve
beber o estoque de um bar inteiro
nem tomar cachaça com açúcar e limão