A SÓBRIA TRISTEZA DOS BÊBADOS

Uma das coisas mais triste que há

é um bêbado sóbrio sentado na mesa de um bar

Todas aquelas horas alcoolizadas

o gosto metálico da boca desidratada

a sede ávida e insaciável da alma

o dulçor amargo nas narinas entranhadas

o fígado inflamado das noites em claro

o latejar castigante das têmporas

o tremor infinito das mãos

e um cansaço maior do que o sono

que sempre teima em não chegar

nada foi suficiente para evitar ou apagar

as lembranças que se busca esquecer

nas transitórias ilusões que a bebida nos dá

Não há dor que se cure

no whisky com gelo

no se afogar nas cervejas

no adocicado do rum barato

na piña colada ou no licor de melão

pois para amargura não serve

beber o estoque de um bar inteiro

nem tomar cachaça com açúcar e limão

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 31/01/2024
Reeditado em 02/02/2024
Código do texto: T7989191
Classificação de conteúdo: seguro