NO DIA EM QUE O GALO NÃO CANTOU
A manhã surgiu calada
sem o cocoricó das madrugadas
Que aconteceu?
Será que o galo morreu?
Esqueceu da hora?
Passou do ponto?
Ou será que enlouqueceu?
E se o galo estiver velho
com a voz rouca, exaurida e caducada
ou caído de cima do telhado
fraturado as asas, quebrando as pernas
e agora estiver no poleiro internado?
Que será das manhãs não anunciadas
se o Sol não souber o instante de sua chegada?
O será dos pintassilgos e dos pardais
dos garis, dos motoristas do metrô
dos barmen fatigados
do último turno do telemarketing
dos seguranças das baladas
e o horário dos bêbados em chegar em casa?
Uma manhã sem galo
é como se o dia entrasse mudo
e a madrugada de fininho saísse calada