NO DIA EM QUE O GALO NÃO CANTOU

A manhã surgiu calada

sem o cocoricó das madrugadas

Que aconteceu?

Será que o galo morreu?

Esqueceu da hora?

Passou do ponto?

Ou será que enlouqueceu?

E se o galo estiver velho

com a voz rouca, exaurida e caducada

ou caído de cima do telhado

fraturado as asas, quebrando as pernas

e agora estiver no poleiro internado?

Que será das manhãs não anunciadas

se o Sol não souber o instante de sua chegada?

O será dos pintassilgos e dos pardais

dos garis, dos motoristas do metrô

dos barmen fatigados

do último turno do telemarketing

dos seguranças das baladas

e o horário dos bêbados em chegar em casa?

Uma manhã sem galo

é como se o dia entrasse mudo

e a madrugada de fininho saísse calada

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 31/01/2024
Reeditado em 31/01/2024
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