O versejar de um neto (dia da saudade)
Lá no alto da serra: salto das nuvens
Cachoeira de água fresca e corrente
Visita inesperada, mas prudente
Na mata embrutecida e geniosa
Descemos ouvindo o som das cascatas
Era agosto, tarde de sol poente
O ajuntar de águas ecoou em mente
Qual cordas de um violão em serenata
No tablado a passarela em madeira
Meu olhar sensível cortava d’água
Feito riacho em sua cabeceira
Era minha vó e o amor que saltava
Antes de atingir o sopé da serra
Vó fazia o sinal da santa cruz
Pedindo ao menino Jesus luz
Para que viesse logo a ribeira
Sonhei em fazer poesia e versando
Como quem conta uma história rimada
Para lembrar-me da mulher amada
Que passou por este mundo sonhando
Sonhou ser filha antes do nascimento
Sonhou em casar, teve filhos e amou
Sonhou ser a mãe antes do casamento
Nunca ensejou parar, e assim sonhou
Quando é noite e no céu faz clarão
Lembro as histórias que ela nos contava
Nossa! Era a moça que o sujão raptava
Assusta só de ouvir na escuridão
Quanta lembrança embargada no peito
Sei que o dia me concede o direito
Realizou tudo quanto queria
Mulher de coragem, fibra e energia
Sua vida tornou-se poesia
História que está contada em meus versos
Sim! Estes são meus versos decassílabos
Guardarei até reencontra-la um dia
No firmamento quero aplaudi-la
Como quem faz música com os dedos
E então poder desvendar os segredos
Que na alma transcende e flui na vida.